O grupo

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Domingueira Tchekhoviana

No dia 24 de Junho, ás 15h tivemos um encontro com cinco grupos de teatro da Zona Leste. Esse foi o primeiro encontro com os grupos que trabalharemos no projeto Um pássaro na mão ou O que é que você tem aí?.


Um encontro de (re)conhecimentos embalado pelas palavras de um velho amigo russo, no quintal do CEU Lajeado. Conversa, petisco e teatro entre grupos de um interior-periferia além das vistas.


























A grande mesa:

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Relato de um velho amigo russo

Trecho de uma carta escrita por Anton Tchekhov, em 1892. Um relato de um episódio que ecoou em sua cabeça e que desembocou em A Gaivota (texto que escreveu três anos depois do episódio).




“O pintor Levitan está passando uns dias no meu sítio. Ontem, ao entardecer, eu e ele fomos à zona de caça às galinholas. Levitan disparou e uma ave, ferida na asa, caiu num charco. Eu a levantei. Tinha um bico comprido, olhos grandes e pretos e uma plumagem bonita. Olhava para nós, espantada. O que podíamos fazer? Levitan franziu a testa, fechou os olhos e me suplicou, com voz trêmula: ‘Por favor, esmague a cabeça dela com a coronha do rifle.’ Respondi que não podia. Ele não parava de sacudir os ombros, nervoso, contraía o rosto e suplicava. A galinhola olhava pra mim, espantada. Tive de obedecer a Levitan e matá-la. E enquanto dois imbecis voltavam para casa e sentavam-se para jantar, havia uma criatura fascinante a menos no mundo”.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sobre os relatos e os auto-retratos


A pesquisa do grupo gira em torno dos relatos pessoais dos próprios integrantes e a relação desses relatos com os diferentes meios, contextos, encontros.

A tentativa de buscar e entender a própria identidade por meio da criação artística tendo como objeto de estudo a si próprio. Estamos, no entanto, sempre em diálogo direto com diferentes autores de diferentes épocas, sempre problematizando-os de acordo com a nosso momento histórico.
 
Por meio do relato pessoal dos seus integrantes é que se costuram as dramaturgias do grupo Más Caras. Dramaturgias que tem por objetivo construir um discurso cênico sensível, de diálogo aberto com o público e que permita aos atores um envolvimento pleno no que estão fazendo.


Processo de construção do livro em branco: O que é que você tem aí?


Histórico de atuação do grupo Más Caras



Teatro de Relatos e Auto-Retratos


O grupo Más Caras iniciou seus trabalhos com esse nome em março de 2010, da união de alunos do projeto Núcleo Vocacional - Teatro, e que posteriormente acabaram fazendo parte de diferentes instituições de ensino, todas na área das artes cênicas: Faculdade Paulista de Artes, SP Escola de Teatro e Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP).
Antes disso, com outros nomes como Cia. Refúgio de Atuadores e Coletivo Parvo, o grupo teve uma intensa atuação dentro do Projeto Vocacional de Teatro.
Seu primeiro trabalho como Más Caras foi Experimento Psicose, a partir do texto Psicose 4:48h de Sarah Kane.
No segundo semestre do mesmo ano, o grupo desenvolveu o trabalho Memórias Póstumas de Hamlet, a partir da obra de William Shakespeare com dramaturgia de Amanda Santos e Carlos Alberto Moreno, trabalho que também é descrito como "Fragmentos diversos e dispersos da memória póstuma do príncipe da Dinamarca. Uma experiência política e poética de jovens que perderam seus pais.".
Depois disso, o grupo realizou três intervenções cênicas intituladas Sobre guarda-chuvas, malas e cadeiras vazias, que tratavam de relações afetivas diante dos encontros e desencontros nos lugares de passagem ou os chamados não-lugares.
Atualmente o grupo se encontra em processo de criação de Um pássaro na mão, a partir de A Gaivota de Anton Tchekhov, projeto contemplado pela edição de 2012 do Programa VAI (Programa de Valorização de Iniciativas Culturais) e é um dos grupos que participam da Assembléia de Arte de Grupos Universitários – A(P)arte da Vez, no Tusp.






Resumo do projeto: Um pássaro na mão ou O que é que você tem aí?




O projeto "Um pássaro na mão ou O que é que você tem aí?" consiste numa pesquisa sobre Quem são?, O que fazem? e Como se estruturam? os grupos de teatro (amadores e/ou  que estejam se encaminhando para a profissionalização) da nossa região: Zona Leste.
As questões foram levantadas a partir da vivência do grupo que mora, e faz teatro longe da região central. Dessa realidade ficam a experiência na utilização de equipamentos de cultura para ensaios e apresentações, acompanhado, no entanto, do mínimo de recursos para a execução do trabalho teatral. Mesmo passando muitas vezes por problemas, dificilmente os grupos da região formam parcerias.
Como artistas percebemos que a situação começou a "invadir" nosso imaginário e se fez urgente para o grupo uma organização simbólica que pudesse manifestar esteticamente nossas aflições.

Chegamos ao texto A Gaivota de Anton Tchekhov como provocador e norteador, decidimos desde Outubro de 2011 investigar a nós mesmos para entender a nossa trajetória como grupo.
Todos os integrantes do grupo são frutos do Projeto Vocacional, ou seja, uma política pública permitiu fazer com que jovens como nós conseguíssemos ter contato com o teatro e fazer dele nossa profissão. Hoje, como bolsistas, estamos em cursos superiores e escolas profissionalizantes para aprimorarmos aquilo que germinou com o Vocacional.
Porém, agora precisamos nos locomover ao centro. Região esta que, por muito tempo, era chamada aqui na periferia da Zona Leste de Cidade (por exemplo: ao invés de dizerem "Vou até o centro." diziam "Vou até a cidade.") A expressão parecia apontar para uma questão importante, como se estivéssemos tão distantes que não estaríamos dentro da cidade. Estamos ou estávamos num interior-periferia além das vistas, o entorno do entorno que não se vê.
Neste momento, surge a necessidade de investigarmos outros grupos, sobretudo os que se encontram nos territórios que fazem parte da realidade de todos os integrantes do grupo: eixo Zona Leste - Centro. Muitas vezes um eixo Moradia - Trabalho.

Perguntas para não se calar: Então aqui não se trabalha? Só se dorme em Guaianases, Aricanduva, Itaquera? Só há tédio rural na Zona Leste? ou como diria Arkádina, personagem de A Gaivota: É melhor ficar na cidade (centro), decorando texto fechado em algum quarto de hotel?

Não temos a pretensão de mapear todos os grupos existentes nessa região que é tão grande e que, por conseguinte deve ter tantos grupos. Mas sim de desterritorializar a nossa prática entrando em contato com outras práticas, outros problemas, outras soluções.
Este caminho se dará por meio de encontros com pelo menos dez grupos de teatro da Zona Leste, cada encontro terá como objetivo a criação de um livro entitulado O que é que você tem aí?, em que cada grupo tentará responder as três perguntas que fizemos acima: Quem são?, O que fazem? e Como se estruturam?.

Livros cheios de perguntas com o objetivo de estimular em nós e nos outros possíveis respostas, possíveis horizontes. Além de legitimar, de forma concreta, a existência e a experiência desses grupos.
Durante e após esse procedimento de encontro com os grupos, iremos recolher material cênico e audiovisual em diálogo com o texto de Anton Tchekhov, e que culminará na montagem e em apresentações de Um pássaro na mão em equipamentos de cultura e espaços-sede dos grupos que entraremos em contato.

Com os livros confeccionados pelos grupos temos o objetivo de preparar uma publicação intitulada O que é que você tem aí? - Seis grupos de teatro num interior-periferia além das vistas. Contendo relatos, retratos, auto-retratos, e textos reflexivos sobre o teatro dito periférico, que serão distribuídos gratuitamente em escolas de teatro, centros culturais, equipamentos de cultura, universidades e demais espaços que julgarmos úteis para a distribuição.
Essa atitude adquire um sentido político já que estaremos escrevendo um pouco da história daqueles que estão à margem das grandes casas de espetáculo e nem almejam estar.