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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Relato de um velho amigo russo

Trecho de uma carta escrita por Anton Tchekhov, em 1892. Um relato de um episódio que ecoou em sua cabeça e que desembocou em A Gaivota (texto que escreveu três anos depois do episódio).




“O pintor Levitan está passando uns dias no meu sítio. Ontem, ao entardecer, eu e ele fomos à zona de caça às galinholas. Levitan disparou e uma ave, ferida na asa, caiu num charco. Eu a levantei. Tinha um bico comprido, olhos grandes e pretos e uma plumagem bonita. Olhava para nós, espantada. O que podíamos fazer? Levitan franziu a testa, fechou os olhos e me suplicou, com voz trêmula: ‘Por favor, esmague a cabeça dela com a coronha do rifle.’ Respondi que não podia. Ele não parava de sacudir os ombros, nervoso, contraía o rosto e suplicava. A galinhola olhava pra mim, espantada. Tive de obedecer a Levitan e matá-la. E enquanto dois imbecis voltavam para casa e sentavam-se para jantar, havia uma criatura fascinante a menos no mundo”.

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